A vida e sua forte tensão em um solo de Nelson Rodrigues.

Ao assistir a segunda apresentação de "Valsa nº 6", descobri que o Tapa destaca uma talentosa diretora na cena paulistana, a atriz Clara Carvalho, responsável pela encenação desse monólogo, o único escrito por Nelson Rodrigues, interpretado por Marina Ballarin. O espetáculo, que estreou domingo (11) no Viga Espaço Cênico, é o segundo que ganha os palcos a partir do Núcleo de Estudos do Tapa coordenado pelos atores Brian Penido e Guilherme Sant’Anna. O primeiro foi "Mão na Luva", criado e interpretada por Isabella Lemos e Marcelo Pacífico.

Tolentino raramente permite a passagem da sala de aula para o palco. “Um visão original sobre a obra. Se isso aparece, aí vale aprofundar para resultar numa montagem"

Foi o caso da Talentosa atriz e bailarina, Marina Ballarin, elásticos que prendem a personagem por pés e mãos, permitem ao público uma infinidade de leituras, um elemento cênico muito expressivo, flores pelo chão e o ambiente rústico completam a beleza do espetáculo. "Eu vejo nesse elástico os fios que a prendem a vida, Brian viu neles as amarras morais da personagem", observa Marina, que carinhosamente oferece este espetáculo para sua mãe.

Este monólogo tem como personagem uma menina de 15 anos morta por uma punhalada nas costas enquanto tocava, ao piano, a "Valsa nº 6" de Chopin.

"Dizem que no momento da morte toda a vida passa pela cabeça", diz Clara Carvalho. No caso de Sônia, o nome da menina morta, o difícil é seguir o fio embaralhado de sua memória. É como se ela estivesse num limbo, entre vida e morte, tentando compreender o que aconteceu, antes de se desligar de vez da vida "É uma colagem poética e cubista das várias facetas de Sônia, desde criança até a mulher que ela projeta ser um dia. Todas as partes estão lá, só que fora de lugar", diz Clara. Nelson escreveu esse solo para sua irmã Dulce, que tocava piano. Marina não domina o instrumento, mas tem formação de bailarina, como a diretora. "Eu danço a valsa", brinca.

Onde?

"Valsa n.º 6." 50 min. 14 anos. Viga Espaço Cênico. Sala Piscina (40 lug.). Rua Capote Valente, 1.323, Sumaré, 3801-1843. Dom., 19 h. R$ 30.